Uma vez me deparei com uma frase que dizia: “Às vezes você faz escolhas na vida, e às vezes as escolhas fazem você.” Dito isso, posso dizer que a arte me escolheu. Minha mãe sempre conta histórias da minha infância e de como eu sempre me arrumava, por volta de três aninhos, para ir tomar mingau na vizinha. Eu sempre usava um pijama cor de rosa ou vermelho, um tamanquinho, uma bolsinha e um óculos cor-de-rosa. Minha mãe sempre relembra de como eu era uma criança que gostava de falar e chorar, o que não mudou muito na minha personalidade. Outra história que adoro é de quando fomos ao clube em um dia quente, e o clube estava cheio, e eu, com meu maiô azul, saía da piscina para dançar para todos que ali estavam e depois pulava na piscina novamente para fazer graça para as pessoas. Ainda sinto a vibração de uma alegria pura e verdadeira de uma criança que mais tarde mostraria vocação para o Ballet.
O ballet fez parte de grande parte da minha vida, o que mais tarde me ajudaria nas expressões corporais no meu trabalho como modelo. O palco sempre foi o meu lugar favorito no mundo, onde sou capaz de me desligar de tudo e me concentrar 100% no que estou fazendo no momento. Mas o que isso tem a ver com a arte e meu trabalho como modelo? Bom, posso dizer que desde pequena tive uma forte sensibilidade para o belo. Sinto que sempre precisei ter beleza e harmonia ao meu redor. Ambientes nos quais a criatividade era sufocada de alguma forma me deixavam doente por dentro, e hoje vejo que paisagens, arquitetura, vestuário, cores e a arte estão ali para serem observados, a fim de nos contar uma história ou fazer parte da nossa história.
Aos 14 anos, recebi uma ligação para fazer uma avaliação de perfil em uma agência de modelos. Não sei ao certo quem me inscreveu no site ou como eles entraram em contato, mas minha mãe acabou me levando, o que resultou na aquisição de um book fotográfico. No entanto, passei 2 anos anônima na agência, até que um dia, aos 16 anos, decidi visitar a agência novamente, e com isso, a agência optou por trabalhamos durante alguns meses no meu perfil para ser apresentado ao mercado.
Os primeiros meses não foram fáceis. Recebi muitos ‘nãos’ dos clientes, mas hoje vejo o quanto esses ‘nãos’ foram importantes para mim, pois me ajudaram a melhorar o que era necessário para enfrentar as adversidades. É totalmente normal que os modelos novos demorem a conseguir o primeiro trabalho, já que, tratando-se de modelos muito jovens, a vergonha e a tendência a se esconder são percebidas pelos mais experientes no mercado, mas nada melhor do que o tempo e as experiências para nos lapidar.
Foram anos para encontrar a ‘imagem certa’ para a agência conseguir vender a minha imagem. Pintei meu cabelo inúmeras vezes e tive vários tamanhos e cortes diferentes nele; me vesti de diversas maneiras e fiz diversos trabalhos com inúmeros conceitos diferentes, conheci pessoas de todas as idades e personalidades nesse meio, me comparei e fui comparada com vários modelos.
Também tive a experiência de atuar como produtora em uma agência de modelos, produzindo ensaios fotográficos e ajudando pessoas de diversas idades a expressar seu amor pela moda. Aprendi e ensinei. A moda já foi um meio no qual me perdi, mas também já foi o meio em que me encontrei. Sempre foi uma troca, e percebi que o mundo da moda sempre foi um dos maiores professores da minha vida.
Hoje, posso dizer que estou em um momento muito especial, pois vejo a valorização do meu trabalho depois de tantos desafios. É uma troca gratificante entre os clientes e o meu trabalho. No entanto, foi necessário passar por todos os altos e baixos que sempre ocorrem na vida dos modelos. Atualmente, me sinto mais confiante em meu trabalho e mais confiante em seguir meu propósito, afinal, ser modelo vai muito além de uma imagem bonita vendendo um produto. Trata-se de seres humanos por trás de uma imagem, trata-se de histórias, aprendizados e muitas superações. Novos horizontes foram avistados, mas é importante sempre lembrar que muitas histórias foram vividas e que me levaram a esses novos caminhos, que, a partir de agora, terão voz.